CAPÍTULO IV: O CORDEL EM SALA DE AULA

 

A história de cordel está ligada à tradição medieval, em que a atividade de contar histórias numa comunidade estava presente. Um narrador anônimo, contava suas experiências e, através dessa ação, transmitia um ensinamento moral, um provérbio, uma sugestão prática, uma norma de vida (Benjamin, 1994 apud EVARISTO; BRANDÃO, 2011, p. 119).

 

As figuras comuns como contadores de história são: o camponês e o marinheiro. Eles adquiriam conhecimentos tanto de seus lugares de origem, como das viagens que faziam. Mais tarde, o artesão assumiu essa função.

 

O desenvolvimento industrial alteração a relação entre os homens. O indivíduo deste período tende a se isolar, logo o contador de histórias, que retira o que conta da sua própria experiência de vida ou da vida de outros, perde o seu lugar.

 

Com o advento da imprensa, há também uma mudança  na arte popular, que passa a ser impressa. Neste caso do cordel, há uma transposição da oralidade para a escrita.

 

O cordel ainda mantém algumas características iniciais: função social educativa, ensinamento, aconselhamento e não apenas entretenimento ou fruição individual.

 

O cordel é um gênero intermediário entre a oralidade e a escrita. Faz-se uma espécie de ponte entre uma cultura popular e outra, literária. No Brasil este tipo de produção literária está associada, tradicionalmente à região Nordeste do país. Nos últimos anos alguns estados do sudeste (São Paulo e Rio de Janeiro),  devido à migração , apareceram também como cidades que expressam essa produção cultural.

 

Predominam nos textos produzidos: as misturas de elementos da literatura erudita ocidental aliados às características próprias e particularidades do sertão nordestino (Lampião e outros cangaceiros famosos).

 

Quanto à autoria, é de maneira geral, polêmica. Muitos autores vendem suas produções passando, para seus compradores o direito autoral. Isso, sem falar no roubo de autoria propriamente dito. Alguns autores tentam garantir a autoria por meio dos acrósticos.

 

Características narrativas de cordel

a.       Apresenta algumas marcas formativas formais: estrofes com seis versos (sextilhas), setessilábicas  com esquema rítmico abcdb, estrofes de com quatro versos (quadras) e os poemas em dez versos.

b.      Os temas podem-se encontrar as pelejas, os romances históricos ou de aventuras, as histórias de amor, ou ainda as narrativas de acontecimentos sensacionais, atuais da época.

c.       Os textos também podem ser classificados de acordo om o número de páginas.

d.      Há forte presença religiosa

e.       É comum ao final do folheto, leitor ser convidado a continuar aquela história em outro folheto.

f.        Repetição de episódios com personagens distintos.

g.       Marcas da linguagem popular falada, que se manifestam como recurso linguístico ou nas vacilações ortográficas, em vários momentos essas marcas ocorrem simultaneamente.  E não somente isso, há também uma mescla dos tempos verbais  (passado e presente).

h.      Interdiscursividade de maneira explicita ou não. Por exemplo, interdiscursividade com textos bíblicos.

A estrutura

a.       Uma situação inicial de equilíbrio;

b.      A degradação da situação;

c.       A tentativa do resgate do equilíbrio da situação inicial,

d.     E por fim, a volta do equilíbrio inicial.

 

 

RESUMINDO:

  • O cordel. Gênero que está entre a oralidade e a escrita.
  • Tem função social educativa, ensinamento, aconselhamento e não apenas entretenimento ou fruição individual.
  • Mescla literatura erudita e particularidades do sertão nordestino.
  • Autoria: nem sempre é possível atestar com segurança.
  • São poemas, com marcais formais em suas estrofes.
  • A estrutura apresenta: uma situação inicial de equilíbrio; a degradação da situação; a tentativa do resgate do equilíbrio da situação inicial; e por fim, a volta do equilíbrio inicial.
  • Forte presença da temática religiosa.
  • Interdiscursividade

 

Reflexões para a prática docente

Embora já se perceba a expressão desse tipo de gênero na região Sudeste, mais especificamente em São Paulo, acredito que o desafio do primeiro momento seria lidar com dois tipos de preconceito: o primeiro aquele que impossibilita ver o cordel como literatura,  e ainda há aqueles que o percebam como uma literatura de segunda categoria. O segundo desafio, por ser uma produção, na sua maioria, advinda do Nordeste, vencer o preconceito contra o próprio nordestino, visto ainda muitas vezes como o inculto.

 

Para trabalhar o Cordel com os alunos, no primeiro momento poderíamos levá-los a a ler (online) o folheto Proseando sobre Cordel, de Fábio Sombra (https://issuu.com/fabiosombra/docs/proseandosobrecordel), neste folheto, os alunos conhecerão um pouco sobre a história da Literatura de Cordel: sua origem, como a tradição do Cordel chegou ao Brasil, a métrica e a rima tradicionais, temas recorrentes, os desafios e as pelejas e, por fim, as perspectivas do Cordel para o futuro.

 

Pensando em algo mais próximo, podemos citar a novela da Rede Globo Cordel Encantado que tinha como temática a literatura de cordel.  

 

Também há possibilidade de ver vídeos na internet sobre a temática. Os alunos assistirão a um pequeno documentário, produzido pela Rede Globo, um especial sobre Literatura de Cordel. O documentário está dividido em quatro partes:

 

https://www.youtube.com/watch?v=intyRe9Gyiw

https://www.youtube.com/watch?v=Pv8x3ulR9RA&feature=related

https://www.youtube.com/watch?v=oWLKs4K6yEc&feature=related

https://www.youtube.com/watch?v=CUB0K_nFlwM&feature=related

 

Neste especial, os alunos conhecerão como a Literatura de Cordel se irradiou pelo Nordeste, quem são os autores, como são feitos os cordéis, quais assuntos são abordados, entre outros. 

Um sugestão de Cordel para a sala de aula:

Análise do cordel: A SECA DO CEARÁ

[1]A seca do Ceará

Autor: Leandro Gomes de Barros

Seca as terras as folhas caem,

Morre o gado sai o povo,

O vento varre a campina,

Rebenta a seca de novo;

Cinco, seis mil emigrantes

Flagelados retirantes

Vagam mendigando o pão,

Acabam-se os animais

Ficando limpo os currais

Onde houve a criação.

 

Não se vê uma folha verde

Em todo aquele sertão

Não há um ente d'aqueles

Que mostre satisfação

Os touros que nas fazendas

Entravam em lutas tremendas,

Hoje nem vão mais o campo

É um sítio de amarguras

Nem mais nas noites escuras

Lampeja um só pirilampo.

 

Aqueles bandos de rolas

Que arrulavam saudosas

Gemem hoje coitadinhas

Mal satisfeitas, queixosas,

Aqueles lindos tetéus

Com penas da cor dos céus.

Onde algum hoje estiver,

Está triste mudo e sombrio

Não passeia mais no rio,

Não solta um canto sequer.

 

·         O cordel de Leandro Gomes trata de temática típica do Nordeste: a seca. Observa-se a formalidade na estrutura, poema de versos em cada estrofe. Percebe-se que a intenção do autor é informar e chamar a atenção para a situação do povo nordestino que anda vive cercado pela seca e suas consequenciais.

·         Lendo o poema na íntegra em https://www.ablc.com.br/popups/cordeldavez/cordeldavez039.htm, é possível perceber a função social do cordel de Leandro Gomes de Barros, uma vez que traz à tona a questão da prostituição como fator de sobrevivência em meio à miséria que assola a região. E por fim o descaso do governo com a população nordestina.



[1] Dado o tamanho do cordel, decidimos colocar no trabalho apenas um pequeno trecho