Juventude, Envelhecimento e suas nuances sociais e culturais

Os modelos familiares e a forma como as famílias têm se organizado tem sofrido transformações significativas desde o século XX. Razões sociais e econômicas empurram as mulheres para o mercado de trabalho, sendo também os fatores sociais e econômicos protagonistas de expressivas mudanças na fatia mais jovem das sociedades — seja aqui no Brasil ou além mar.

Temos, de fato, presenciado uma mudança nos marcos considerados antes estáveis no que diz respeito a transição para a vida adulta (PAIS; CAIRNS; PAPPAMIKAIL, 2005). O percurso não é linear, nem previsível: nascer, crescer, estudar, inserir-se no mercado de trabalho, casar e sair da casa dos pais.

A passagem para a vida adulta parece estar muito mais ligada às condições sociais, econômicas e culturais do que ao processo biológico dos sujeitos (quando tradicionalmente acredita-se que há maturidade para, por exemplo, deixar a casa dos pais ao se constituir uma nova família). 

A geração ioiô, conforme Pais et al., não me parece ser “privilégio” dos jovens europeus. Estas “idas e vindas” têm se mostrado frequentes também em terras tupiniquins. A permanência por mais tempo na casa dos pais ou o retorno à casa dos pais, tem sido um escape para jovens que ainda não conseguiram se inserir satisfatoriamente no mercado de trabalho ou para aqueles que, frente à instabilidade do mercado de trabalho, se veem ‘obrigados’ a voltar ao lar de origem – já que não conseguem lidar com os desafios financeiros sozinhos. Esse fenômeno é bem presente entre os jovens das classes média e alta.

Quanto à juventude trabalhadora, objeto de pesquisa de Martins (2001), tem como foco da sua preocupação a permanência no mercado de trabalho. Observo que essa inquietação é comum aos jovens que frequentam as escolas públicas — em sua grande maioria, estes jovens ocupam os bancos de nossas escolas para, de alguma, maneira se manterem nos postos de trabalho ou tentarem a inserção no mercado.

Pessoalmente, tenho um lamento — cada vez mais tenho encontrado jovens que chegam às escolas nas periferias desprovidos de sonhos ou de planos para  a vida adulta.

A escola já não oferece mais encanto. O ensino massificador e mecanicista tem se juntado aos quadros de violência — ambos têm sufocado qualquer plano de construção de si e de uma vida harmoniosa em sociedade (salvo raríssimas exceções).

Em muitos momentos, penso que nós professores perdemos a utopia — tão necessária à vida e, desprovidos dessa ‘ferramenta’ não temos conseguido ajudar os jovens que acessam as escolas na periferia a sonharem, a se projetarem para o futuro, ainda que saibamos que esse futuro pode não chegar devido à violência que os cerca.

Mesmo assim, não temos o direito de bloquear o caminho. Antes, no exercício da docência devemos dar asas para que ao menos eles tentem alçar voos e que seus voos sejam mais altos e mais lindos que os nossos.

 

"Os educadores são construtores de asas; constroem asas para ver os outros voarem. Nada mais bonito do que ver alguém alçar voo em direção aos próprios sonhos." (Adeilson Salles. Livro "Psiu! - p. 89)